segunda-feira, junho 26, 2006

Spotless Sofa*




N.Y.

Apetece aterrar sem bagagens, sem compromissos e sem memória. A cidade tem a sua vida e quando aqui chegamos deixamos de ter a nossa para passar a partilhar a dela.
Não existe intimidade ou partilha. Apenas desejo e volúpia. E muita vontade de descobrir. Passo por ruas que têm como nome os números. Um Blade Runner digital com o futuro a fazer parte do passado. As coisas são o que são e aqui muitas ruas são números. Só. Apenas interessa o tempo que demoramos a chegar até ao destino. Lá, no fim da rua, pode estar o MOMA, Manhattan ou Wall Street. Não é importante, porque no caminho encontramos muitos pequenos MOMAS e muita gente com dinheiro. Esta é uma Cidade em que estar e respirar é um acontecimento. Vamos a qualquer lado.
E vamos de táxi. É que aqui eles são mesmo amarelos. Apesar de não encontramos o de Niro ao volante, podemos ser conduzidos por um porto-riquenho, um polaco, um russo, um italiano ou um chinês. Se tivermos sorte talvez apanhemos um americano, dos verdadeiros. Uma viagem dentro da própria viagem. Central Park, o parque, o pulmão verde, com o seu frenesim de jogging e de carrinhos de bebé. Long Island, com a sua cor acinzentada e areia grossa. Uma praia onde apenas a pele dos veraneantes é mais branca do que a das ondas. Harlem e apostas para todos os gostos. Chelsea, o bairro mais artsy da classe média. E provavelmente também o bairro mais europeu da cidade, onde o passado tem alguma importância. Mas até a história se reinventa e não podemos esperar homenagens ou placas ou o que quer que seja.
Este não é sítio para turistar. É Nova Iorque e nós estamos cá. E só por isso deixamos de ser turistas para ser nova iorquinos. King of the world faz muito mais sentido aqui do que no Titanic. Também por isso esta é a Cidade. Todos ao nosso redor são The King da sua própria Nova Iorque, o que faz dela a Rainha das rainhas. Nenhuma outra tem o seu glamour, o seu cosmopolitismo, a sua crueza e, mais importante do que qualquer outra coisa, a sua infidelidade. Ela não é nossa. Podemos partilhar os nossos devaneios. Ela percebe, escuta e mostra o caminho. Mas não lhe podemos pedir que parta connosco. Ela fica lá, à espera que regressemos. A Cidade não pára e quando lá voltarmos vamos descobri-la mais velha e mais charmosa. Como nós.

* hei-de ir para o ano

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

na definitivamente isto não tem nada que ver com NY. Não passamos dos pormenores sem descrever a magnitude e o ambiente da cidade.
Um texto deste tamanho para falar de algo como NY tem de recorrer a palavras chave daquelas que fazem clic e nos dizem e mesmo aquilo algo que aqui não encontamos.
Boa continuação e boa escrita

P.S. espero ter ajudado

10:51  

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