quarta-feira, agosto 02, 2006

(às vezes) dói-me o mundo*




Ontem fui a um sítio. Um edifício abandonado. Agora é sítio mas já deve ter sido casa. Sinto-lhe a textura e adivinho quem lá morou . Vi um grelhador improvisado e grades vazias. Imaginei um final para aquela baía toda, com o sol cego nos caranguejos e as algas a ficarem mais verdes. Tudo mal. Tudo betão. Tudo improvisado. Como terão sido as pessoas? Como e quando se apaixonaram pelo lugar? Como viveram e construíram o seu sonho? E como tudo acabou? Como é que tudo acaba? E como será agora? A amargura continua? Culpam-se? Desistiram também da vida? Não me parece. Continuei a sentir o cheiro a mar e a vento. O cheiro que começou tudo aquilo. O cheiro que me faz escrever tudo isto. E nunca o betão me pareceu tão bem entre caranguejos, mar, vento e algas que fazem tudo parecer verde. A vida delas entrou na minha.
Tudo isto que escrevi foi ontem. Não ontem mas antes. É memória. É verdade! Estou encafuado numa sala irrespirável e sinto o cheiro a mar. Sei como é a pele seca do sal. Lembro-me. Do que se vão lembrar os miúdos que sentem a pólvora seca no ar? O cheiro nauseabundo da desgraça? A memória de alguém que matou e de alguém que morreu? Como vão eles construir? E que interessa que seja betão? E foda-se, como é possível que cabrões matem cabrões e crianças e pessoas? E que merda de aculturação é esta que permite que tudo vá andando, com cabrões assassinos de cabrões que eles fizeram ser cabrões a passearem como diplomatas? Arre hipocrisia! Também a minha por não querer mais. Eu não voto!... e pronto. Perdoem os desabafos. Mas também estas vidas entraram na minha. À falta de outras palavras ficam estas;

Bicarbonato de Soda (Álvaro de Campos)

Súbita, uma angústia... Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma! Que amigos que tenho tido! Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido! Que esterco metafísico os meus prpósitos todos! Uma angústia, Uma desconsolação da epiderme da alma, Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço... Renego. Renego tudo. Renego mais do que tudo. Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles. Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na circulação do sangue? Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me? Não: vou existir. Arre! Vou existir. E-xis-tir... E--xis--tir ...
Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue! Renunciar de portas todas abertas, Perante a paisagem todas as paisagens,
Sem esperança, em liberdade, Sem nexo, Acidente da inconseqüência da superfície das coisas, Monótono mas dorminhoco, E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas! Que verão agradável dos outros!
Dêem-me de beber, que não tenho sede!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

está na altura de soltar os cavalos e acabar com esta merda toda. procurem informação sobre um projecto de nome undisclosure project, vejam a conferência de imprensa (é extensa mas vale pelo conteúdo), à qual podem aceder através do google video. se são cépticos, como eu, pelo menos investiguem algumas daquelas revelações. esta merda é assustadoramente fodida. ESTAMOS LIQUIDADOS.

JUGE

18:17  
Anonymous Anónimo said...

juge : podes ser mais especifico ?

20:04  
Blogger carlos said...

http://video.google.com/videoplay?docid=-1166743665260900218&q=disclosure+project

20:53  
Anonymous Anónimo said...

vejam este: 911 COVER UP

estamos todos fodidos.....

22:07  

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