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Sentado na última morada do meu Pai, rodeado por símbolos de morte a vida ganha um novo peso. O peso relativo da vida é esmagado pelo peso específico da morte… olho á minha volta e procuro nos símbolos uma explicação, procuro conforto no vazio, no silencio procuro uma resposta, fecho os olhos e o cheiro da terra remexida dá-me a certeza, a única certeza que eu não queria ter. O vazio toma conta da minha revolta, o frio da pedra gela o vulcão raivoso que estoira dentro de mim, o silêncio abafa-me o choro. Cerro os punhos, levanto-me e sento-me mil vezes, desvio, vezes sem conta, o olhar do sítio para onde é inevitável olhar… pergunto-lhe Porquê? Durante 5 cinco segundos não me oiço… na esperança de ouvir uma resposta paro de pensar… a vontade de O ouvir é tanta que me cala o pensamento. O silêncio é avassalador… nada. Vezes sem conta repito a pergunta. Vezes sem conta não obtenho resposta. É este o vazio brutal da perda? É esta a medida da dor que não consigo explicar…
Percorro, mais uma vez, todos os trilhos, todos os passos que dei com Ele, todas as lutas, todos bons e especialmente todos os maus momentos que passámos. Uma culpa cega, sem piedade, vinga-se de mim por todas as vezes que não Lhe respondi aos telefonemas, por todas as vezes que Ele tinha uma nova teoria sobre o inicio do universo e eu não tive tempo para ouvir… sou castigado por esta culpa com uma violência atroz que me verga e eu, impotente deixo-me vergar… luto para respirar.
Num acto completamente irracional começo a ajeitar as flores que, também elas já mortas, lhe fazem companhia… queria poder fazer mais, queria só poder fumar um ultimo cigarro com Ele… é isso que pela decima vez faço… não consigo virar as costas e dizer Adeus… caminho em direcção ás porta trabalhadas do cemitério de Coruche e o peso que carrego faz-me novamente voltar para trás. Que peso é este que sinto… que ancora é esta que agora me prende e que nunca antes foi impedimento para Lhe dizer Adeus… ancora é Ele. Sempre foi mesmo que eu não desse conta.
Com a frieza característica de quem faz destes sítios de morte a sua vida, uma voz puxa-me de volta ao frio da pedra onde me sento e informa-me em tom monocórdico que “o cemitério vai fechar”… Já? – instintivamente respondo – mais uma pergunta sem reposta. Como apareceu por entre as campas assim desapareceu…
Levanto-me plenamente ciente que tinha chegado a altura de dizer alguma coisa, dizer alguma coisa que ficasse ali até eu voltar… Com um muito ténue e tremido tom de voz e já sem esperança de resposta ficou um simples e sincero -“ATÉ BREVE MEU QUERIDO PAI.”
Percorro, mais uma vez, todos os trilhos, todos os passos que dei com Ele, todas as lutas, todos bons e especialmente todos os maus momentos que passámos. Uma culpa cega, sem piedade, vinga-se de mim por todas as vezes que não Lhe respondi aos telefonemas, por todas as vezes que Ele tinha uma nova teoria sobre o inicio do universo e eu não tive tempo para ouvir… sou castigado por esta culpa com uma violência atroz que me verga e eu, impotente deixo-me vergar… luto para respirar.
Num acto completamente irracional começo a ajeitar as flores que, também elas já mortas, lhe fazem companhia… queria poder fazer mais, queria só poder fumar um ultimo cigarro com Ele… é isso que pela decima vez faço… não consigo virar as costas e dizer Adeus… caminho em direcção ás porta trabalhadas do cemitério de Coruche e o peso que carrego faz-me novamente voltar para trás. Que peso é este que sinto… que ancora é esta que agora me prende e que nunca antes foi impedimento para Lhe dizer Adeus… ancora é Ele. Sempre foi mesmo que eu não desse conta.
Com a frieza característica de quem faz destes sítios de morte a sua vida, uma voz puxa-me de volta ao frio da pedra onde me sento e informa-me em tom monocórdico que “o cemitério vai fechar”… Já? – instintivamente respondo – mais uma pergunta sem reposta. Como apareceu por entre as campas assim desapareceu…
Levanto-me plenamente ciente que tinha chegado a altura de dizer alguma coisa, dizer alguma coisa que ficasse ali até eu voltar… Com um muito ténue e tremido tom de voz e já sem esperança de resposta ficou um simples e sincero -“ATÉ BREVE MEU QUERIDO PAI.”
Hugo Parracho
6 Comments:
Ai, esse cemiterio de Coruche que tao bem conheco... ai voltarei entao
em Dezembro para Lhe lembrar as ginginhas que tomavamos quando tinha
eu que, 13, 14 anos? E voces ainda menos... la em cima no Norte, como
se chamava aquilo...? A morte so apaga a vida verdadeiramente quando a
memoria humana falha. Quantas mortos silenciosos deixaram de viver so
no esquecimento? Quantas mortes nao o sao face as tais memorias que
mencionas, boas e mas, os momentos da vida de cada um, que afinal sao
TUDO. Quantos bons momentos me lembro com o Xico, maus quando havia
discussoes, enfim, os problemas de todas as familias... e o sentimento
de que nada nunca sera o mesmo - essa e a tristeza da existencia
humana. O saber que nao se pode voltar a traz. Mas culpa? Nao sintas
culpa, primo. Tomamos conta do nosso proprio destino, e doa a quem
doer fazemos o que queremos, nao para incutir a culpa aos outros, mas
sim porque o temos que fazer. Nao porque somos controlados por algo ou
alguem, mas sim porque temos vontade propria e interior, e decidimos
assim ser e assim fazer. Ha que respeitar, pelo amor, aquelas decisoes
dificeis de cada um...
Ate Dezembro. Bebemos uma ginginha. Ou garrafa. A Coruche!
grande abraço
Um abraço forte e sentido!...
Este comentário foi removido pelo autor.
a morte não existe.
Eu tambem perdi o meu pai,eu perdi uma parte de mim.Sò me arrependo de nunca lhe ter dito o quanto o amava,e o quanto estava arrependida de muitas vezes nâo o ter ouvido.Hoje,ele faz-me imensa falta,mas o que mais me revolta,foi que na noite em que morreu,disse-lhe boa noite,até amanhâ,e disse-o ao longe.Sinto a sua falta.
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