quinta-feira, janeiro 24, 2008

No country for the old man



Ora pela primeira vez na minha vida sinto-me a envelhecer. Um facto é um facto. E como tal, não posso escamotear o meu declínio (tirada futebolística retirada a Rui Santos). Se é uma evidência triste a minha maior sensibilidade aos excessos, não deixo de me sentir confortável com a anunciada segunda meninez. Muito honestamente, encaro esta idade como uma verdadeira merda. Não é carne nem é peixe. Já não conseguimos rebentar 243 imperiais quatro noites seguidas, mas ainda não nos é facultado um assento privilegiado no bus. É tipo Idade Média. Essa fase em que a fronteira entre o herói e o vilão é uma questão de estilo. Passou a euforia da descoberta, a neblina do sebastianismo, onde tudo é possível, inclusive a possibilidade de sermos verdadeiros génios. Por outro lado, ainda não nos é permitida uma postural social gagá, com barba branca. Onde o olhar demorado sobre o mar denota sabedoria. Não, na idade média não há tempo a perder. São apenas vinte, no máximo trinta anos. E o tempo urge, como bem se aprendeu no tempo em que se saía à noite como se não houvesse amanhã. Portanto, há que conquistar estatuto social o mais breve possível. Ora, com o tão propalado aumento do tempo de vida, prevejo sérias complicações sociais. Não vejo como convencer a minha geração de que não pode descansar mais do que trabalhar. De que os sessenta e setenta é ainda idade da 9h às 18h, e de que os passeios de veleiro com gin tónico terão de passar a ser feitos com oitenta. Conhecem algum James Bond com esta provecta idade? O ideal, julgo eu, será prolongar a adolescência. Tipo até aos quarenta. Apesar de não me imaginar vestido num fato tipo Peter Pan (a lycra não me assenta bem), estou disposto a tentar manter o ritmo e fazer com que o último copo leve tanto como o primeiro.