terça-feira, fevereiro 19, 2008



Por virtude do Ramadão que auto-impus, aconteceu divagar (diz que a fominha dá visões) por variadas temáticas que de quando a quando assolam a minha cabecinha desocupada. Uma delas, a imagem projectada, desde cedo se fez sentir presente. Pensei sempre, como continuo a pensar, quem queria ser. E no que as pessoas esperavam que eu fosse. Nos dias que antecediam a chegada à escola depois das férias, ou nas mudanças de turma, além de imbecil, decidia se queria ser médio ou avançado. Se era engatatão ou um fuinha que se entretinha a espancar os mais fracos no recreio. Se acordava cedinho para surfar ou bebia só mais uma. Os níveis ansiolíticos iam permitindo que se fizesse um bocadinho de tudo. Até porque sempre me agradou mais o ideal dos sete ofícios do que a especialização pura e dura.
A não ser da vez em que decidi que queria ser pintor. Quem sabe da minha propensão para destruir tudo o que as mãozinhas alcancem, que ria à vontade. Mas era o que tinha decidido ser. E foi o que fui. Durante três dias. Uma incompatibilidade com a tinta da china falou mais alto.
Esta bipolaridade pretendeu sempre agradar a gregos e troianos. Sendo os Outros os gregos, sabia bem fazer parte (se bem que a dada altura, numa viela de Coimbra, junto a um contentor pasteloso de vomitado, tenha tido uma sensação algo antagónica). Mas, acima de tudo, sabia bem Estar. Com as pessoas. E sabia bem agradar a moi même. Esta sensação consciente, quase masturbatória, é do melhor que pode haver. Tal como no sexo, somos o que fazemos (eu, a julgar com o que aqui projectei, sou um gajo doente). Por isso, tirando a pintura e similares,vou decidindo o que ser e fazer à medida que a coisa anda. Antes que apareça algum cavalo.
Vem toda esta lenga lenga a propósito de um filme que não vi, mas quero ver.