quarta-feira, março 26, 2008



Quando era puto, muito puto, acordava de manhã e ficava na cama. Mais um bocadinho. Faltava-me resolver os problemas do mundo, salvar mais uma donzela, lutar contra mais um inimigo mortal para mim e, no fundo, para toda a humanidade. Faltava-me acabar de sonhar. Deixava-me ficar e fechava muito os olhos para não reparar que já era de manhã. No quentinho dos lençóis de flanela e do meu mundo. Depois lembrava-me que tinha fome e que talvez já fossem horas de Conan. O mundo podia esperar. Era, invariavelmente, de madrugada. Não raras vezes dei com o nariz na musiquinha da rádio renascença que antecedia o hino e festividades seguintes. Dependendo do tempo disponível, apressava-me a torradar o máximo pão comestível e preparar o leitinho com colacao. Se as coisas corressem como previsto, dava por mim em frente ao genérico com cobertor, meias duplas, breakfast e cérebro kilómetros zero. Durante duas horas não existia para ninguém.
Depois, ala pró quintal. “Não se fica em casa com este tempo!” Era o dia todo a varrer. Quem vive no campo tem sempre coisas para fazer. Constroem-se rampas impossíveis para a bina, vai-se fazer um recado ao supermercado, apanham-se laranjas para o lanche e descobre-se que afinal debaixo daquela rocha suspeita não existe nenhum túnel secreto. Almoçava e sesta. Da boa. Duas ou três horinhas a acabar de tratar do mundo. O resto do dia era para viajar. Leia-se Ler. Histórias. De heróis e vilões. Das coisas. É isso que ler faz. Traz-nos o mundo e leva-nos para o mundo. Foi isso que fez comigo. É também isso que a Granta faz. E já o fez 100 vezes.
Comprem e viajem.