terça-feira, fevereiro 03, 2009


O diz que disse, o dizer bem e o dizer mal são características marcantes da casa portuguesa. Pelo menos da minha. Apesar de não encontrar qualquer maldade profunda na maior parte dos disparates que digo, sou, a bem dizer, opinativo. Uma coisa é uma coisa, como dizia o outro. A coisa porreira da Idade Média (cronologicamente situada entre os 30 e os não sei bem ainda) é a de que permite a confrontação dura e crua com a imbecilidade. No caso, a nossa. Se bem me lembro, os poucos momentos lúcidos da minha prolongada adolescência passavam por cagar postas de pescada e passar ao largo de todas as outras evidências. Certezas são certezas, como é óbvio. Com filha e dores nas costas, tenho agora uma nova abordagem à coisa. Mais ciente das minhas capacidades. Nem por isso mais humilde. É o que chamo de verdadar, tarefa que consiste em desconstruir as verdades alheias para supremacia da própria. Por exemplo, aquele champô e o gel de banho (sabonete para gajas) que de vez em quando ponho não é porque estou a ficar careca e um pussy. Não senhor. É puro conforto. E saúde. Por causa dos problemas da pele. E os pullovers em bico não são sinal de um conservadorismo crescente. Engano. Dão muito jeito para as reuniões. Ainda agora pelo Natal. Mastiguei afincadamente carninha do porcino que chegue para dois ou três anos e percorri as áreas vínicas cá do burgo, em tinto, em branco e em bruto. Descansei em água ardente. Empapei. Dei cabo das cruzes, estourei com o fundo de maneio e estupidamente desejei bom ano a pessoas que nada me dizem e a quem nada quero. Embuído pelo Menino, segui todos os dizeres e socorri-me do balão de boa disposição. Exagerei? Não, interagi. Tenho culpa das tradições? Não faço isto por ser um pulha burguês. Não senhora! Sou um pulha português. É o meu fado.