Quando eu for grande

Quero ser como eu pensava que ia ser. Olhar para a frente e escolher o que quero ser quando for grande. E não estar preso ao que gostava de ser, nem ao que a vida escolheu que eu fosse. Quero acordar e poder dizer que quero assim. E que vou para ali. Não me interessa o quê, nem penso agora no que gostaria de ser quando fosse grande. Não me lembro do que pensei quando era pequeno e pensava em ser grande. Mas sei que todos os dias da minha vida em que era pequeno acordava com a sensação de já o ser. Agora que a vida nos diz que somos grandes, acordo todos os dias com vontade de não o ser. E pergunto-me porque é que a vida nos quer grandes, se o que vamos aprendendo todos os dias é que somos pequenos. Assim, suficientemente pequeno para compreender o que significa ser grande, quando o for, quero ser guerreiro do espaço, cowboy e futebolista. Quero viver debaixo de água, fazer cabanas e descobrir mundos perdidos. Andar de veleiro, guiar um descapotável e ser salvador do mundo. Quero conhecer mulheres bonitas, dar mergulhos no mar e olhar para as estrelas. E depois de o ser, quero voltar a ser pequeno. Tirar a areia dos pés antes de entrar em casa e pedir as torradas da minha mãe antes que ela fique muito grande. Ver desenhos animados aos sábados de manhã e sonhar com o que vou ser quando for grande.