LONDRES
Chegado, olho para ela e não deixo de sentir um certo repúdio, um "nojo" circunstancial. Não sei o que me desaproxima deste contexto. Talvez a falta de sentido gastronómico. Onde não há azeite, não há alma e o meu estômago ibérico não reage muito bem a peixe com batatas fritas.
A verdade é que nunca senti o seu apelo e só agora, com aquele relógio enorme à vista, começa uma aproximação. Mais pelas pessoas que fazem a cidade do que por ela mesmo. Esta gente, sabe quem partilha a Cidade, não é de cá. Não é inglesa. Não é de parte alguma. São pedaços daqui e dali que decidiram vir para um sitio onde há de tudo. E Londres, queiramos ou não, é um desses lugares. Um espaço global, feito de nenhures e da típica arrogância britânica. As regras são ditadas por eles, os verdadeiros ingleses, e se aceitarmos isso de bom grado, muito bem. Caso contrário, preparem-se para o dark side dos gentlemans. Se eles dizem que podemos beber até à exaustão às 6 da tarde, então é isso que temos de fazer. Nunca depois da meia-noite, hora própria para estripadores e outros serial killers. Aí preparem-se para espancamentos de doc martins e uma súbita vontade de nos devotarmos à causa islâmica.
Londres é bela na decadência. E isso porque não chega a ser verdadeiramente decadente. Quando a podridão ameaça instalar-se, expulsa-se a escumalha. Assim se fez com os australianos e assim se fez com o Tio Sam. E por isso a cidade nunca perde aquela pose altiva e conservadora.
Ao andar pelas ruas percebo o hooliganismo que vai fazendo dos Sirs a escumalha mais aristocrata da história das monarquias. Oo restaurante do Sir H, a casa de apostas do Sir Y e o clube de futebol do Sr. Beluga. Se tudo correr mourinhamente, em breve teremos um russo como aristocrata britânico e o triunfo final dos Czares.
Depois de pagar para trocar euros por libras, gastar o equivalente a uma refeição na Bica do Sapato por um Burguer mal amanhado e dormir num boteco de rua pelo preço de um Hilton, decido que enough is enough. E como eu, mais cedo ou mais tarde também o fazem todos aqueles que fazem Londres. As regras são ditadas por senhores que se mascaram de túnicas e perucas, O que não agrada mesmo que seja num sítio onde se ganha boa massa. Gatwick airport please, digo eu. Yes Sir, diz o taxista irlandês enquanto dá mais um gole na sua Pine.
*nunca fui, mas gostava